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Investimento Defensivo: Retornos Médios Sem Esforço

 Investimento Defensivo: Retornos Médios Sem Esforço

Neste artigo irei falar sobre a estratégia de investimentos daquele que Benjamim Graham chama de investidor defensivo em seu livro O Investidor Inteligente, que é aquele que busca segurança nos seus investimentos, sem gastar muito tempo lidando com eles.

Para uma introdução sobre o tema recomendo ler primeiro o artigo Value Investing: A Fórmula para Riqueza, o primeiro da série sobre Benjamin Graham que escrevi caso ainda não tenha lido-o.

Os Critérios para a Carteira Defensiva

A proposta de Graham para o investidor defensivo é que ele tenha uma carteira diversificada de ações, compradas a preços médios, que irão gerar com baixo risco um retorno superior a renda fixa. Os critérios que Graham propõe para a montagem de uma carteira defensiva são enumerados a seguir, começando pela alocação dos ativos da carteira.

1. Alocação de Ativos

Para Graham o investidor defensivo deve investir em títulos de renda fixa e ações apenas, desconsiderando outras formas de investimento como imóveis ou ouro. As ações representam um investimento nas empresas, as únicas geradoras de riqueza em uma economia, enquanto que a renda fixa representa um colchão de segurança para o investidor.

Na renda fixa ele deve optar por investimentos de “primeira linha”, que são idealmente títulos do governo, como os do Tesouro Direto. Esse componente de renda fixa serve como um seguro contra quedas na bolsa, uma vez que os títulos costumam se valorizar quando a bolsa cai. Isto é, se por um lado o retorno das ações costuma ser superior à renda fixa, por outro lado os retornos da renda fixa são mais estáveis.

Graham define uma regra fundamental para a alocação de ativos do investidor defensivo: nunca tenha menos de 25% ou mais de 75% em ações, com uma proporção inversa entre 75% e 25% em títulos (renda fixa). Ao manter pelo menos 25% em títulos você terá mais coragem para manter o resto do seu dinheiro em ações, mesmo que elas tenham um desempenho fraco.

Dessa forma, a alocação mais conservadora possível seria de 75% em renda fixa e 25% em ações quando o investidor achar que os preços das ações estão muito altos; e a alocação mais arriscada seria de 75% em ações e 25% em renda fixa, quando o investidor achar que as ações estão baratas. Na dúvida, o mais recomendado é adotar uma proporção de 50%-50% para ações e renda fixa, que Graham dizia ser o “programa para todas as circunstâncias”, uma vez que não é possível determinar com precisão quando as ações como um todo estão caras e quando estão baratas.

2. Custo Médio

O investidor defensivo deve utilizar a estratégia de custo médio (dollar cost averaging) que consiste em aplicar valores iguais em intervalos regulares de tempo (a cada mês, trimestre, semestre, ano). Se o mercado cair, sua quantia preestabelecida permite a compra de mais ações do que o mês anterior e se o mercado subir o seu dinheiro compra menos ações.

Dessa forma o investidor defensivo evita jogar dinheiro no mercado apenas quanto ele aparenta ser mais sedutor (e na verdade mais perigoso) e evita deixar de comprar mais depois que uma queda, que deixou os investimentos mais baratos, porém, aparentemente mais arriscados.

3. Diversificação

A carteira defensiva deve ter uma diversificação adequada, mas não excessiva. Isso significa um mínimo de 10 e um máximo de 30 ações individuais.

Uma vez observados estes três critérios vejamos como montar a carteira de ações para o investidor defensivo.

Como Montar uma Carteira de Ações

Antes de mais nada é preciso deixar claro que o objetivo do investimento defensivo é obter o retorno médio do mercado, uma vez que é muito difícil superá-lo de forma consistente. É interessante observar que a muitos fundos de ações com gestores profissionais não conseguem obter o retorno médio do mercado. Também vale notar que o obter o retorno do mercado não significa necessariamente que você obterá lucro.

Assim, a estratégia que o investidor defensivo deve usar é bastante simples. Basta que sua carteira reflita a composição de um índice amplo do mercado, como o Índice Bovespa – que é, por definição, o mercado. Dessa forma, a estratégia ideal para o investidor defensivo seria comprar todas as ações do índice, pois assim ele tem a garantia que obterá sempre o retorno médio do mercado. Como fazer isso é inviável para a maioria dos investidores, Graham sugere critérios para a seleção de ações individuais, que veremos no próximo tópico.

Contudo, hoje em dia existe uma forma mais fácil e acessível de conseguir obter o retorno de um índice do mercado. Com a chegada da era digital as instituições financeiras criaram produtos de investimento cada vez mais sofisticados, como, por exemplo, os chamados “fundos de índice” ou “ETFs”.

Os fundos de índice não são nada mais do que fundos de investimento negociados diretamente na bolsa de valores que acompanham um determinado índice do mercado. Isto é, eles são gerenciados de forma totalmente passiva, simplesmente refletindo todas as ações que fazem de um determinado índice dele de modo a obter o mesmo desempenho. Assim, em vez de você comprar todas as ações que fazem parte do Índice Bovespa, é só comprar um fundo de índice acompanha esse índice específico.

Os fundos de índice são um investimento em que é altamente improvável que você tenha qualquer sofrimento ou surpresas, mesmo se você adormecer por vinte anos. Eles são a realização do sonho do investidor defensivo. Após compor uma carteira permanentemente em regime de piloto automático e baseado em fundos de índice, você será capaz de responder a cada pergunta do mercado com a resposta mais poderosa que um investidor defensivo pode ter: “Não sei e não quero saber”. O reconhecimento que você sabe muito pouco sobre o futuro é, sem dúvidas, a arma mais poderosa de um investidor defensivo. Você pode saber mais sobre fundos de índice dando uma olhada no artigo Como Investir em Ações com Fundos de Índice.

Uma vez que tudo que que você precisa fazer é comprar fundos de índice, utilizando a estratégia de custo médio, não é necessário pesquisar e selecionar suas próprias ações. Na verdade, para a grande maioria das pessoas isso não é sequer aconselhável. No entanto, algumas pessoas gostam da ideia – da diversão e do desafio intelectual associados – de escolher ações individuais.

Se esse for o seu caso recomendo que, em vez de construir uma carteira completa de ações, você utilize um fundo de índice como a base dela. Lembre-se sempre que o objetivo do investimento defensivo é obter o retorno médio do mercado. Enquanto os fundos de índice são uma escolha garantida para obter tal rentabilidade não há nenhuma garantia desse retorno no caso da escolha de ações individuais.

Portanto, sugiro que você mantenha cerca de 90% do seu dinheiro de ações em um fundo de índice amplo do mercado, deixando os 10% restantes para tentar escolher ações por conta própria. No próximo tópico  vamos ver como Graham sugere que deve ser feita a seleção das ações individuais.

Selecionando Ações Individuais

Graham propôs uma estratégia de investimento relativamente simples para o investidor defensivo que requer apenas um pouco de pesquisa. Para selecionar ações individuais que irão compor a carteira de ações diversificada Graham sugere sete critérios de qualidade e quantidade, que listamos a seguir.

Tamanho adequado da empresa: Com o objetivo de evitar empresas pequenas que possam estar sujeitas a adversidades acima do normal Graham sugere investir em empresas não inferiores a US$100 milhões de faturamento anual no caso de uma empresa industrial, e não inferior a US$500 milhões em ativos totais, no caso de uma concessionária de serviços públicos.

Uma condição financeira suficientemente forte: No caso das empresas industriais o ativo circulante deveria ser pelo menos o dobro do passivo circulante (ou um índice de liquidez corrente acima de 2). Da mesma formam o endividamento de longo prazo (passivo não-circulante) não deveria exceder o capital de giro/patrimônio líquido circulante. No caso das concessionárias de serviços públicos a dívida não deveria exceder duas vezes o capital social, avaliado ao valor contábil.

Estabilidade de lucros: Lucro ininterrupto (sem nenhum prejuízo) nos últimos dez anos.

Histórico de dividendos: Algum pagamento de dividendos para cada um dos últimos vinte anos.

Crescimento dos lucros: Aumento mínimo de 1/3 nos lucros por ação nos últimos dez anos, usando médias trienais no início e no fim.

Razão preço/lucro moderada: A razão P/L deve ser inferior a 15 para os lucros médios dos últimos três anos.

Razão preço/ativos moderada: O índice P/VPA deve ser inferior a 1,5. Contudo, pode-se aceitar um P/VPA maior desde que o P/L (Preço/Lucro) multiplicado pelo P/VPA (Preço/Valor Patrimonial por ação) não exceda 22,5.

Esses sete critérios irão excluir todas as empresas que são pequenas demais, estão em condições financeiras relativamente fracas, têm o estigma de um prejuízo ou não possuem um histórico longo e ininterrupto de pagamento de dividendos. Por outro lado, irá incluir empresas com um excesso de ativos tangíveis, poucas dívidas e negociadas com um desconto significativo em relação a seu preço, de modo que tem pouca probabilidade de despencarem.

“Garimpar” Não Basta

Procurar por ações que atendem os critérios estabelecidos é condição necessária, porém não suficiente para selecionar boas ações para a carteira. Além de aplicar os critérios acima para a seleção, o investidor defensivo deve ler os relatórios anuais e trimestrais de cada empresa, lendo pelo menos os relatórios dos últimos cinco anos. Se você não estiver disposto a fazer esse esforço mínimo de ler e fazer comparações básicas de saúde financeira para cinco anos, você é defensivo demais para comprar quaisquer ações individuais e deve sair do negócio de escolha de ações e aplicar somente em fundos de índice.

É Aplicável na Prática?

Os critérios de Graham para selecionar ações individuais foram aqui apresentados tal e qual aparecem na sua obra O Investidor Inteligente. Se você procurar por ações que atendam esses critérios na bolsa hoje é provável que fique decepcionado ao descobrir que ações como essas não existem na realidade. Se você tem interesse na seleção de ações recomendo que veja este outro artigo que escrevi em analiso a viabilidade da estratégia de Graham usando critérios semelhantes aplicados à bolsa brasileira.

Conclusão

Para o investidor defensivo Graham apresentou um método de investimento que é quase mecânico: basta compra títulos de qualidade e ações diversificadas em igual proporção e em intervalos iguais de tempo. E nunca foi tão fácil montar uma carteira de investimentos defensiva como hoje em dia, quando é possível usar instrumentos como os fundos de índice em vez de selecionar ações individuais.

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