Value Investing: A Fórmula para Riqueza
Value Investing: A Fórmula para Riqueza
O criador do Value Investing foi Benjamin Graham, que é considerado o maior analista prático de investimentos de todos os tempos. Seu discípulo mais famoso é ninguém menos do que Warren Buffett, simplesmente o maior investidor de todos os tempos. Buffett é um dos homens mais ricos do mundo com uma fortuna estimada de US$ 72,7 bilhões em 2015 pela revista Forbes.
A filosofia de investimento de Graham é explicada em detalhes em seus dois livros mais famosos. Através da sua obra Security Analysis (1934) [Análise de títulos financeiros – sem edição no Brasil] ele transformou a gestão de fundos de investimento em uma profissão moderna, que até então era guiada por superstição e adivinhações. Já no seu clássico O Investidor Inteligente (1949), que é voltada para o público geral e, sem dúvidas, um dos melhores livros sobre investimentos já escritos, Graham apresenta dois elementos essenciais para o investidor individual: o preparo emocional e as ferramentas analíticas.
Benjamim Graham: O Investidor Inteligente
Benjamin Graham investia utilizando um método puramente quantitativo, utilizando informações que estavam ao alcance de qualquer um. Ele foi o criador da análise fundamentalista que consiste na análise dos balanços patrimoniais e fluxos de caixa da empresa. Ele também foi um pioneiro na estratégia buy and hold, isto é, a prática de manter ações por longos períodos de tempo: anos e até décadas. Seu critério mais famoso era comprar ações de empresas vendidas por menos do que seu capital de giro líquido, as chamadas “pechinchas”. De 1936 até sua aposentadoria em 1956 seu fundo mútuo lucrou pelo menos 14,7% por ano, contra 12,2% do mercado de ações como um todo.
Os princípios fundamentais desenvolvidos por Graham e que o investidor inteligente (ou investidor de valor) deveria seguir são:
Uma ação representa um negócio real. Se o negócio foi ruim, a ação também será ruim.
As ações têm um valor intrínseco que difere do preço da ação. Por mais atraente que possa parecer um investimento nunca se deve pagar um preço elevado demais por ele.
O mercado é como um pêndulo que oscila entre o pânico injustificável (que torna as ações muito baratas) e a euforia insustentável (que torna as ações muito caras). O investidor inteligente deve vender para os otimistas e comprar dos pessimistas.
Esses três tópicos são a base do investimento em valor. Nos próximos parágrafos iremos explorar cada um desses pontos em maiores detalhes.
Ações são Negócios de Verdade
A premissa fundamental do investimento em valor é que uma ação não é apenas um preço em uma tela de computador, mas uma participação em um negócio real. Este negócio possui ativos, sejam eles tangíveis com uma fábrica, ou intangíveis como uma marca. Assim, quando alguém compra uma ação se torna dono de parte desses ativos e obtém o direito de receber uma parte do lucro por eles gerado.
Dessa forma, o investidor “de valor” quando quer avaliar uma ação precisa avaliar a empresa como um todo, como se fosse comprá-la integralmente. Se você quisesse comprar uma empresa provavelmente levaria em consideração o preço oferecido, a qualidade da administração, os lucros que ela obteve nos últimos anos e uma série de outros fatores. O investidor inteligente raciocina com esses mesmos princípios, mesmo que vá querer comprar apenas algumas ações.
Assim, algo que tem um grande peso para o investidor de valor é a qualidade do negócio. Warren Buffet já disse que “se tivesse que fazer uma opção entre um negócio questionável a um preço confortável ou um negócio confortável a um preço questionável, preferiria, sem sobra de dúvidas, o último”. O fato é que, negócios ruins baratos continuam sendo, ruins. Ponto.
Determinar a qualidade da empresa vai além da simples matemática, requer conhecer a empresa em profundidade e acompanhar o desenvolvimento dos seus negócios. Mas de forma geral podemos dizer que o investidor de valor geralmente irá buscar por indicadores de preço/lucro e preço/patrimônio líquido moderados. Muitos investidores compram ações ao analisar o indicador P/L e acham que elas estão baratas, quando na verdade os lucros é que estão caindo! Um crescimento rápido nas vendas e aumento no lucro também tem pouca importância se não houver diminuição das dívidas no balanço (ou aumento de dinheiro). Em suma, o investidor inteligente, consiste de que ações representam negócios de verdade, irá procurar por empresas com uma qualidade, senão alta ao menos moderada e que além disso certamente não estão muito caras em relação ao seu valor intrínseco.
Ações Possuem um Valor Intrínseco
A Diferença entre Preço e Valor
Para o investidor de valor as ações têm um valor intrínseco, que é diferente do preço pela qual ela está sendo negociada na bolsa. Este valor intrínseco (ou preço justo) não é um valor exato, mas uma faixa de possível valores, que muda ao longo do tempo. Ele é baseado, para uma empresa que opera sem prejuízo, no seu potencial de gerar lucros e distribuir dividendos no futuro. Em outras palavras, é baseado no dinheiro que a empresa irá gerar durante todo seu período de existência.
A especulação altera o preço da ação na bolsa, que oscila em torno do que o negócio realmente vale. Isto é, às vezes esse preço é superior e outras vezes é inferior ao valor intrínseco. Essa divergência ocorre principalmente quando a bolsa como um todo está em baixa ou em alta. Contudo, como os mercados são razoavelmente eficientes, há uma tendência de o valor retornar, no longo prazo, para o seu valor intrínseco, de modo que investidor em valor pouco se importa com as variações no dia-a-dia dos preços das ações. Enquanto os preços mudam o tempo todo, o valor intrínseco não se altera no curto prazo, permitindo ao investidor em valor comprar ações que estão baratas em relação ao seu valor intrínseco.
Aposto que quando você vai comprar um carro, você não diz ao revendedor coisas como: “Quero comprar esse carro, a qualquer preço. Se ele tiver dobrado de preço nos últimos dias melhor ainda”. Certamente essa não seria uma atitude muito inteligente, pois você provavelmente pagaria pelo carro mais do que ele vale.
O Senhor Mercado
O investidor de valor não age de forma emocional, ele não segue a multidão só porque é mais confortável agir de acordo com as outras pessoas para obter aprovação social. Ele sabe que a massa quase nunca está certa. Ele também sabe do perigo de confiar nos “experts” do mercado. Eles podem até ser úteis para indicar um investimento promissor, mas o investidor de valor faz sua própria pesquisa e chega as suas próprias conclusões.
É fato que o mercado oscila muito de um dia para outro e tem grandes oscilações na valorização ao longo de períodos de euforia e pessimismo. Isto é, para o investidor de valor visto como algo positivo. Graham inclusive criou uma parábola de um investidor imaginário chamado Sr. Mercado para ilustrar como um investidor inteligente deve obter vantagens com as flutuações do mercado.
Ela começa pedindo que você imagine que você possui uma participação de uma determinada empresa. Você tem um parceiro de negócios imaginário chamado Sr. Mercado, que se dispõe a comprar de você ou a vender a você uma participação adicional a um preço diferente, que ele lhe informa todos os dias.
O Sr. Mercado é um homem emocional, que deixa que seu entusiasmo ou desespero afetar o preço que ele está disposto a comprar/vender em um determinado dia. Mas o Sr. Mercado não se importa se você tirar proveito dele. Algumas vezes ele é exuberante e determina preços acima do valor do que o negócio vale. Outros dias ele é pessimista, e coloca um preço abaixo do valor real do negócio. Nesses casos a diferença entre o preço e o valor das cotas pode ser extremo.
O que um investidor inteligente deve fazer nesta situação? Uma vez que ele conhece o valor real do negócio, quando o Sr. Mercado quiser vender a preços muito abaixo do valor ele irá comprar cotas dele. Quando o Sr. Mercado estiver querendo comprar cotas por mais do que elas valem o investidor inteligente irá vendê-las para ele.
O Senhor Mercado
O Comportamento do Sr. Mercado muda a cada momento, mesmo que o valor intrínseco da participação permaneça o mesmo
Essa história é sobre ter uma mentalidade de buscar por oportunidades baseadas na diferença entre o preço e valor, não em emoções ou no timing (tentativa de antecipar os movimentos do mercado). É sobre a disciplina de evitar comprar ativos que estão precificados abaixo do seu valor intrínseco.
A lição que fica é que ser um investidor inteligente não se trata se conseguir vencer o mercado ou não, mas sim de ter disciplina e atender seus próprios objetivos de investimento. O investidor inteligente evita que o Sr. Mercado influencie o seu comportamento, muito pelo contrário, ele tira proveito do seu comportamento irracional para comprar quando ele estiver desanimado e vender quando ele estiver eufórico.
A verdade é que no curto-médio prazo os sentimentos das pessoas têm mais impacto sobre os preços das ações do que o valor intrínseco. Elas são movidas pelo medo – que irá jogar o preço das ações para baixo – e pela cobiça – que vai jogá-los para cima. Contudo, no longo prazo, é o valor intrínseco que prevalece. Assim, um investidor de valor tem a capacidade de agir de forma racional e não se deixar levar pelas emoções do mercado. Com isso ele consegue se aproveitar dos momentos de pânico (quando todos estão vendendo) para comprar papéis baratos.
Como Ser um Investidor de Valor
Como investidor de valor você terá inúmeras vantagens como uma baixa rotatividade na carteira de investimentos logo, os custos de manutenção também serão baixos. Também não é necessário acompanhar o mercado, isto é, as cotações das ações frequentemente, uma vez que as estimativas de valor intrínseco não mudam constantemente.
O investimento em valor, apesar de incluir a renda fixa, trata principalmente da compra de ações. A vantagem das ações é que elas têm oferecido historicamente, nos países desenvolvidos, um retorno significativamente maior, bem como maior proteção contra a inflação do que o investimento em renda fixa.
Contudo, as ações também trazem consigo o risco de perdas. É fato que se você não utilizar a técnica certa é possível que nem em 10 anos vá ter retorno. No entanto, utilizando o investimento em valor – a técnica certa – que se concentra na minimização dos riscos e investindo seu dinheiro por pelo menos 5 anos a chance de perda é pequena. Mesmo assim, se você não é capaz de ver seu investimento cair 50% sem se desesperar, não invista em ações.
Os Tipos de Investidor Inteligente
No seu livro O Investidor Inteligente Benjamim Graham também faz uma distinção básica entre dois tipos de investidores: o “defensivo” e o “empreendedor”.
Graham dizia que você pode ser um investidor inteligente estabelecendo uma carteira permanente que funciona em piloto automático e não exige qualquer esforço; ou pesquisando, selecionado e monitorando um “mix” de ações, títulos e fundos. A primeira é a abordagem “defensiva” que requer muito pouco tempo e esforço, mas exige um isolamento do mercado. Já a segunda maneira compreende a abordagem “empreendedora”, que demanda muito tempo e energia. Nos próximos parágrafos você vai conhecer melhor as diferenças entre esses dois tipos de investidor, começando pelo investidor defensivo.
O Investidor Defensivo
O investidor defensivo é aquele que se contenta em obter o retorno médio do mercado e deseja segurança e tranquilidade ao lidar com seus investimentos. Ele não está disposto a gastar muito tempo para fazer uma pesquisa significativa e buscar grandes oportunidades. Pelo contrário, ele procura somente evitar perdas ou erros graves, investimento somente em empresas muito estáveis. Seu objetivo é se livrar de trabalho, aborrecimento e a necessidade de tomar decisões com frequência.
O “ônus” do investidor defensivo é que ele provavelmente sentirá pouca emoção ao investir. Ele terá que renunciar a qualquer pretensa capacidade de prever o futuro enquanto os mercados financeiros sobrem e descem dia após dia. Porém, essa torna-se também a sua arma mais poderosa: ao colocar todas as suas decisões de investimento no piloto automático o investidor defensivo neutraliza o poder do mercado de levá-lo a cometer erros.
Já para as pessoas que buscam emoção ao investir e/ou estão dispostas a dedicar tempo e esforço nessa empreita a classificação de investidor empreendedor pode ser mais adequada a elas, como veremos no próximo tópico.
Investidor Empreendedor
Em contraste como o investidor defensivo, o investidor empreendedor, dedica seu tempo para à seleção de ações mais atraentes que a média. Ou seja, ele gastará mais tempo fazendo pesquisas e vai trabalhar duro para encontrar oportunidades que outras pessoas não viram. Em compensação, espera-se que ele consiga atingir retornos acima da média do mercado como um todo.
A definição de um investidor empreendedor não depende do grau de risco que ele busca, mas somente volume de trabalho que ele está disposto a dedicar! Ele não é aquele que corre mais riscos do que a média, mas simplesmente aquele disposto a dedicar mais tempo e esforço na montagem da sua carteira. Ele deve encarar suas operações de investimento como um negócio na tentativa de obter um resultado melhor do a média do mercado, contudo, ele não tem nenhuma garantia de sucesso.
Quem tiver um temperamento pouco apropriado para investir, usar estratégias erradas ou mesmo tiver azar pode pôr tudo a perder. Graham atenta para o fato de que muitos fundos de ações não conseguem obter resultados superiores ao índice médio do mercado, mesmo com analistas profissionais.
Defensivo ou Empreendedor?
Toda a política de investimentos que Benjamin Graham desenvolve depende em primeiro lugar da escolha entre o papel defensivo ou o empreendedor para o investidor individual. A tabela a seguir evidencia as principais diferenças (e semelhanças) entre ambos os tipos de investidor.
Tabela Comparativa dos Tipos de Investidores
Fica claro que há uma grande diferença entre o investidor defensivo e um investidor empreendedor. O primeiro faz pouco esforço e toma decisões infrequentes, correndo um risco mínimo e obtendo retornos razoáveis ao longo prazo. Já o segundo dedica bastante tempo à procura de ações que prometem um resultado acima da média, contudo, sem nenhuma garantia de sucesso.
Se você tem tempo de sobra, é competitivo ou aprecia um desafio intelectual, a abordagem empreendedora talvez seja a mais apropriada para você. Já se você prefere a simplicidade e não quer gastar muito tempo cuidado dos seus investimentos, deve optar pela estratégia defensiva.
Ou talvez você prefira se colocar em uma categoria intermediária entre o investidor defensivo e empreendedor, não é? Nesse ponto Graham é categórico em afirmar: tal posição intermediária não existe. Tentar aproveitar o melhor das duas abordagens de investimentos é uma atitude que provavelmente, nas palavras de Graham “renderá mais decepção do que realização”.
É fato que a maioria das pessoas não possuem o tempo, a determinação ou capacidade mental para encarar os investimentos como um quase-negócio. A palavra “empreendedor”, usado para definir esse tipo de investidor não é empregada levianamente. O investidor empreendedor deverá agir, pensar e lidar com seus investimentos da mesma forma que um empreendedor lida com a sua empresa, de modo que um pequeno número de investidores se encaixa nesta categoria.
Conclusão
O Value Investing não requer grandes conhecimentos sobre economia, finanças ou matemática. É uma estratégia muito simples e pode ser aplicada por qualquer pessoa. Diferente de outros métodos não tenta prever os preços das ações daqui a uma semana, um dia ou uma hora. O desafio do investidor inteligente é outro: determinar se as ações estão baratas ou caras, em relação ao seu valor intrínseco.
Neste artigo vimos apenas os conceitos teóricos que são a base do investimento de valor. Abaixo você confere mais artigos sobre assunto, mostrando como o investidor de valor faz a escolha das suas ações. Espero que você tenha gostado desse artigo e gostaria que deixasse um comentário aqui embaixo para eu saber o que você achou.